quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

HOLOGRAMA

(Soneto “de coda” em decassílabo heróico)


Conserto o desconcerto, acerto o passo,
Pinto, esculpindo o verso que me ocorre…
As coisas que aqui faço, ou que não faço,
Transcendem sempre a carne que me cobre…

Mas, se à própria razão retiro o braço
Se o gesto me preguiça, a mão não corre,
Se, já rendida á dor, verga ao cansaço,
Perco o rumo à razão que me socorre…

Que me não faltes, mão dos gestos leves,
Que esculpes, que constróis, que remodelas,
Que, sem hesitações, aqui te atreves

A dissecar miséria e coisas belas
E a arder nos mil pavios do que não deves!
… porque há quem vá negar-te a luz das velas,

Quem queira dar-te fama e voz, tão breves
Que ocultem o sentido ao barro, às telas,
Para honrar com néon quanto nem escreves…



Maria João Brito de Sousa – 09.02.2014 – 17.07h


Imagem - "Genesis" - Jacob Epstein

6 comentários:

  1. arder em mil pavios - e não perder o sentido do barro.

    (assim os grandes Poetas - desvendando os caminhos.)

    belíssimo.

    beijo

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  2. O verso que te ocorre é sempre belo.
    Cada soneto teu é sempre melhor que o outro. És uma poeta de grande talento.
    Maria João, tem um bom domingo e uma boa semana. E um bom Carnaval.
    Beijos.

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  3. Mais um belo poema
    a rasgar caminhos

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  4. Obrigada, Puma!
    Vou até aí deixar o meu abraço!

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