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terça-feira, 19 de novembro de 2013

AOS QUE SE ACENDEM NA LUTA!

(Décimas)


Aos que se acendem na luta,
Aos que se apagam na fome,
Aos que vão morrendo em nome
De uns banais filhos da puta
Que lhes roubam, da labuta,
Quanto lucro os engordou,
Lá, onde o lucro os cegou
E onde a garra do poder
Que não pára de crescer
Cruamente se fincou

Sem que os direitos de um povo
Fossem, sequer, respeitados,
Garantidos, preservados,
Tudo a bem de um “mundo novo”
Que el` condena e que eu reprovo
Na palavra e nas acções
E até nas contradições
A que el` venha a estar sujeito
Pela mão de um burro eleito
E outros tantos aldrabões,

A todos esses, a quantos
Sem descanso resistirem
Mesmo se um dia caírem
Na dureza dos quebrantos
- que serão certos e  tantos… -
Mas  que nem por isso lentos,
Possam ficar sempre atentos
Sem mudar de direcção,
Sempre opondo a voz do não
Aos subornos truculentos,

À luta dos companheiros,
Àqueles que nas “barricadas”,
Sem espingardas, nem granadas,
Que no frente a frente, inteiros,
Com a força de guerreiros,
Contra tal barbaridade
Ergam presença e vontade,
Deixo os versos que escrever!
Depois, venha o que vier,
Terei estado entre os primeiros!




Maria João Brito de Sousa – 18.11.2013 - 21.02h


Tela de Álvaro Cunhal - Imagem retirada da página do Partido Comunista Português

sábado, 16 de novembro de 2013

RAZÕES PARA UMA BOA AUSCULTAÇÃO DA MISÉRIA SOCIAL ENDÉMICA

SEIS DÉCIMAS PARA BEM AUSCULTAR E DIAGNOSTICAR AS OCULTAS CAUSAS DA POBREZA SOCIAL ENDÉMICA, SEGUNDO A BOA PRÁTICA DA MEDICINA POPULAR





Com quantas lágrimas verte,
Com quanta dor te arrebanha,
Te aborda e depois se entranha,
Vem a miséria que, ao ver-te,
Te condena, te perverte,
Faz de ti farrapo humano,
Te lança no desengano,
Te desgraça, te desdenha,
Te transforma em coisa estranha
Pr`a melhor poder perder-te!

Vem, quando menos sonhavas,
Infiltrar-se, sorrateira,
Estudando a melhor maneira
De açambarcar quanto amavas,
De negar quanto aspiravas,
De minar-te a resistência
Quando, com estranha insistência,
Te obriga a ser`s quem não queres,
Desmentindo o que disseres
Pr`a tomar-te a dianteira… 

Muito poucos voltarão
A dar-te o valor que tens,
Que ela não rouba só bens,
Muda, inteira, a condição
E, além de tirar-te o pão,
Coloca-te uma etiqueta
Das que abundam na sarjeta
Dos humanos preconceitos
Onde alguns poucos “eleitos”
Encontram fama e razão…   

Quanto mais dúbia, mais duro
Se torna o jugo que impôs
Sobre a voz da tua voz
Quando aperta, furo a furo,
O cinto com que o esconjuro
Te abraçou nesse momento
Em que, sem outro argumento,
Te afastou de quanto amaste
E logo, em claro contraste,
Te impôs seu próprio futuro  

Pois assim que essa armadilha
Por elites preparada,
Tão fatal, tão bem estudada,
Que nem a própria partilha
Bloqueia os rumos que trilha,
Se estende tão triunfante,
Como se fora gigante
De bocarra escancarada
Cravando, pela calada,
A dentuça acutilante,


E, munida de mil manhas
Bem escondidinhas na manga,
Faz, de amigo, um  seu“capanga”
Com duas ou três patranhas
De opacidades bem estranhas,
Tu, nas malhas enrededado,
Já nem sabes pr`a que lado
Te empurra essa dura canga;
Se pr`á na fome ou se pr`á “tanga”
De quem, de ti, fez “coitado”!






Maria João Brito de Sousa – 15.11.2013 – 14.47h




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

(CON)TRASTE - Seis décimas para desafiar a mo(r)te sem glosar mote algum




Voz do comando final
Destoutra rebelião,
Mesmo que eu diga que não,
Que te erga o punho e proteste
Negando que aqui vieste
Sem bater, nem dar sinal,
Pôr fim, a bem ou a mal,
A quanto sobre à função
De ir conjugando alma e mão
Em versos que me não deste
E, decerto, não escreveste,
Mas nos quais deixaste o sal, 

De nada me servirá,
Mas… que fazer, se esta vida
Me pede pr`a ser vivida
Toda do lado de cá?
Sei que, nem boa, nem má,
Esse teu ciclo cumprindo,
Não te orgulhas de ter vindo
E, à força de tão cumprida,
Tanto te faz que eu decida
Dizer que de ti prescindo… 

Alguns chamam-te destino,
Eu, muito pelo contrário,
Dar-te-ei, de modo vário,
Um nome menos latino,
Mais simples, mais pequenino,
Em jeito de desafio
Pois, já que morro de frio,
De ti cobro o estranho erário
De mudar-te o corolário
Nas contas que aqui desfio! 

Aqui deixo, à revelia
Da vontade que nem tens,
Como se escólio de bens,
O nome que me ocorreu
Pois, nem inferno, nem céu,
Antes sal de humana origem,
Me surge em estranha vertigem
Num verso a que não convéns
Já que terminá-lo vens
Quando o sei ser muito meu, 

Ponto final que resultas
De um percurso acidentado,
Circunstância, tempo errado,
Poder no qual nunca exultas,
(Sei que as pessoas mais… “cultas”
criticarão quanto digo,
mas, “isto” nasceu comigo
e trago-o tão bem pensado,
tão sentido e tão estudado,
que ouso e desdenho um tal p`rigo!) 

Coisa comum que magoas,
Banalidade inclemente
Que arrebatas são, doente,
Gentes mesquinhas e boas,
Que, num segundo, atordoas
E noutro te retiraste
De quanta dor cá deixaste,
Só sei que fico contente
Por saber fazer-te frente
Quando te chamo “(con)traste”!



Maria João Brito de Sousa – 08.11.2013 – 14.31