SEIS DÉCIMAS PARA BEM AUSCULTAR E DIAGNOSTICAR AS
OCULTAS CAUSAS DA POBREZA SOCIAL ENDÉMICA, SEGUNDO A BOA PRÁTICA DA
MEDICINA POPULAR
Com quantas lágrimas verte,
Com quanta dor te arrebanha,
Te aborda e depois se entranha,
Vem a miséria que, ao ver-te,
Te condena, te perverte,
Faz de ti farrapo humano,
Te lança no desengano,
Te desgraça, te desdenha,
Te transforma em coisa estranha
Pr`a melhor poder perder-te!
Vem, quando menos sonhavas,
Infiltrar-se, sorrateira,
Estudando a melhor maneira
De açambarcar quanto amavas,
De negar quanto aspiravas,
De minar-te a resistência
Quando, com estranha insistência,
Te obriga a ser`s quem não queres,
Desmentindo o que disseres
Pr`a tomar-te a dianteira…
Muito poucos voltarão
A dar-te o valor que tens,
Que ela não rouba só bens,
Muda, inteira, a condição
E, além de tirar-te o pão,
Coloca-te uma etiqueta
Das que abundam na sarjeta
Dos humanos preconceitos
Onde alguns poucos “eleitos”
Encontram fama e razão…
Quanto mais dúbia, mais duro
Se torna o jugo que impôs
Sobre a voz da tua voz
Quando aperta, furo a furo,
O cinto com que o esconjuro
Te abraçou nesse momento
Em que, sem outro argumento,
Te afastou de quanto amaste
E logo, em claro contraste,
Te impôs seu próprio futuro
Pois assim que essa armadilha
Por elites preparada,
Tão fatal, tão bem estudada,
Que nem a própria partilha
Bloqueia os rumos que trilha,
Se estende tão triunfante,
Como se fora gigante
De bocarra escancarada
Cravando, pela calada,
A dentuça acutilante,
E, munida de mil manhas
Bem escondidinhas na manga,
Faz, de amigo, um seu“capanga”
Com duas ou três patranhas
De opacidades bem estranhas,
Tu, nas malhas enrededado,
Já nem sabes pr`a que lado
Te empurra essa dura canga;
Se pr`á na fome ou se pr`á “tanga”
De quem, de ti, fez “coitado”!
Maria João Brito de Sousa – 15.11.2013 – 14.47h
8 comentários:
Razões sem razão que nos "matam"...
Que gente é esta que se não farta?
Um beijo
Que nos matam lentamente e sem anestesia geral, para muitos de nós, Lídia...
Vou até à Seara deixar o meu beijo!
Em dia de desassossego, bem pode o teu poema ser grito
Os tempos não estão propícios a grandes sossegos, Rogério!
Que os nossos gritos possam acordar os que têm um sono mais pesado!
Abraço!
Ah, Maria João, não será por falta de bem linguajar que as consciências não despertam.
Intenso e muito bem escrito!
Abraço
Obrigada, AC!
Vou até aí...
Na verdade a vida está para lá do olhar
Bjs
Estará, Mar Arável, estará... mas, aqui, a abordagem é meramente social...
Abraço!
Enviar um comentário