(Em verso de nove sílabas métricas)
Vês paredes de uns prédios já gastos…
De uma delas, de cinza tingida,
Brotam, vagos, soturnos e castos,
Mundos mil, estranhas formas de vida…
Se a magia nocturna dos astros
Lhes confere aparência fingida,
Serão barcas, sem remos, nem mastros,
Sobre um mar sem prelúdio ou saída…
Se, iludida, a memória se exalta,
Reconhece os perfis, neles confia
E quer crer no que aos olhos
ressalta,
É tal qual como se almas penadas,
No silêncio dessa hora tardia,
Se apossassem das pedras… coitadas…
Maria João Brito de Sousa –
27.11.2012 – 15.58h
6 comentários:
Nem num só verso vi fantasmas
Nesse teu pretenso fantasmagórico
As pedras, essas pedras de que não desarmas
E a insistência no soneto, esse acto heroico
"Se a magia nocturna dos astros
Lhes confere aparência fingida,"
A luz nocturna a beber das sombras os sonhos.
Um beijo
Boa noite, Rogério :)
Acertaste na "mouche" em três pontos;
O soneto pouco ou nada tem de fantasmagórico, não desarmo das pedras - de alguma estranha forma as amo, sem dúvida! - e não consigo "desapaixonar-me" do soneto.
Um amigo, também ele um excelente sonetista, fez um reparo às nove sílabas métricas que tenho andado a utilizar desde há umas semanas... penso eu que sejam apenas semanas. Disse-me que os eneassilábicos atrapalham a maioria dos sonetistas... eu encontro-lhes um ritmo aguerrido, quase imparável desde o primeiro verso da primeira estrofe... a leitura em voz alta, nada tem a ver com a dos decassilábicos... estes quase correm, resolutos e firmes, pelas estrofes e imprimem uma força extra ao poema na sua expressão oral... assim os sinto, resistentes, imparáveis... mas, mesmo estando quase a dormir em pé, senti a necessidade de te falar disto... desta musicalidade tão diferente, quase Wagneriana, que ressoa em mim, através deles... ou neles, através de mim...
Gostaria de saber explicar isto um pouco melhor... mas penso que me entendes.
Abraço grande!
Lídia, um beijo :)
Hoje não consigo retribuir a visita, não conseguiria descortinar, ler e interiorizar as espigas da seara... terá de ficar para amanhã... estou com tanto sono que mal consigo teclar uma desculpa muito sincera... e são-no sempre, as minhas desculpas e justificações...
Beijo!
Há pedras
com vida por dentro
E eu gosto das pedras, Mar Arável... agora já não posso com elas mas quando me mexia melhor, tinha sempre algumas a decorar a casa...
Abraço! :)
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