Tarde ou cedo
a noite irá render-se
e o poema erguer-se-á, lúcido,
sobre a raiz das coisas indomadas…
não mais a ousadia burguesa
o insultará perguntando-lhe se se tem “entretido”
no crochet das palavrinhas rebuscadas,
no bric-à-brac das rimas-de-fazer-passar-o-tempo,
na minudência das noveletas de pequeno ecrã,
no suborno adocicado dos adornos doirados
ou das essências-de-atrair-amigo-fácil…
então, arreganhando os dentes,
ele que suou, ele que se multiplicou
em genuínos gestos de alegria, espanto e dor,
ele que ousou decantar, letra a letra,
cada molécula da lucidez
que compõe o soluto do sonho,
ele que sondou e minuciosamente desbastou,
todo e cada ramo da árvore do real
e, quantas vezes, exausto, quase exangue,
soube, ainda assim, recusar o fruto aparente e fácil,
ele que, sem sombra de hesitação,
desafiou, a cada verso,
a todo-poderosa banalidade
munido, tão só, duma alma cheia de barrigas vazias
levantar-se-á e rugirá
reclamando, não mais, nem menos,
do que o seu merecido direito à dignidade…
a noite irá render-se
e o poema erguer-se-á, lúcido,
sobre a raiz das coisas indomadas…
não mais a ousadia burguesa
o insultará perguntando-lhe se se tem “entretido”
no crochet das palavrinhas rebuscadas,
no bric-à-brac das rimas-de-fazer-passar-o-tempo,
na minudência das noveletas de pequeno ecrã,
no suborno adocicado dos adornos doirados
ou das essências-de-atrair-amigo-fácil…
então, arreganhando os dentes,
ele que suou, ele que se multiplicou
em genuínos gestos de alegria, espanto e dor,
ele que ousou decantar, letra a letra,
cada molécula da lucidez
que compõe o soluto do sonho,
ele que sondou e minuciosamente desbastou,
todo e cada ramo da árvore do real
e, quantas vezes, exausto, quase exangue,
soube, ainda assim, recusar o fruto aparente e fácil,
ele que, sem sombra de hesitação,
desafiou, a cada verso,
a todo-poderosa banalidade
munido, tão só, duma alma cheia de barrigas vazias
levantar-se-á e rugirá
reclamando, não mais, nem menos,
do que o seu merecido direito à dignidade…
Maria João Brito de Sousa – 09.01.2012 – 20.28h
IMAGEM - "O Burguês e a Menina", Júlio*
*Nome artístico do pintor Júlio dos Reis Pereira, irmão de José Régio cujo pseudónimo literário era Saúl Dias.
8 comentários:
Parece ser a dignidade a última riqueza de alguns, quando a esperança se vai. Belo o teu poema. Parabéns, Maria João.
"...e, quantas vezes, exausto, quase exangue,... " Não desiste!
E isso é tanto, tanto que nem sei dizer
Bjs
Obrigada, Luís Santos! :)
Até essa parecem apostados em roubar-nos...
O meu abraço!
Obrigada, Lídia. Vou até à Seara de poemas.
Beijo!
que o poema grite como trombetas. e se abatam as muralhas...
gostei muito
beijo
Obrigada, Heretico!
Vou até ao Relógio de Pêndulo :)
O direito à dignidade. Nem mais. O poema é, a meu ver, a forma mais difícil de passar uma mensagem na sua totalidade, uma arte que muitos tentam e poucos atingem na sua plenitude.
Um cordial abraço
Mel
Obrigada, Mel!
Vou tentar retribuir-lhe a "visita" agora mesmo! Bjo!
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