Eu digo-te
que o sol floresce limpo
sobre o estrume das aparências
e que as palavras são casas nas
cidades da voz
digo-te
que as ruas são mãos a repousar,
que as coisas de pedra são canções
e que as canções são luas, de tão
brancas…
dir-te-ei,
vez por outra,
que as plantas são mulheres e homens
cansados da colheita improvável,
que os dias – todos eles –
são movimento,
que as noites são o esconderijo
dos sonhos à espera de acordar
e que os muros são pontes entre agora
e depois
falar-te-ei de passos sem distância,
de espaços sem medida,
de memórias sem tempo
e de gente sem medo de morrer,
mas jamais me ouvirás falar da
renúncia
enquanto o murmúrio me for permitido
na cidade da voz libertada
Também a metáfora se come, se bebe
e não sabe render-se enquanto viva
Maria João Brito de Sousa –
03.09.2012 – 18.12h
Imagem retirada do site do jornal "Avante!" - Guernica - Pablo Picasso 1937