VISLUMBRES


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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

TELA III




Será por mim e não por quem não sinto
Nem jamais sentirei uma empatia,
Que eu ato as pontas soltas deste instinto
Que para nada mais me serviria...

Sereis, porém, bem vindos ao recinto
Que engloba um universo... eu gostaria
De abraçar-vos nas cores com que eu o pinto
Porque nenhuma cor nele existia...

Sois bem vindos ao cume desta sede,
À chama deste fogo inapagável
Que me vai consumindo, como vela!

Sois bem vindos a esta estranha rede,
A este vazio, sempre inesgotável,
Da escritora pintando a sua tela...



Maria João Brito de Sousa - 19.08.2010 - 13.30h


NOTA - Onde se lê PEINTE, na imagem da tela, deverá ler-se PEINT.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ENQUANTO A MINHA TERRA VAI ARDENDO...




Enquanto a minha terra se incendeia,
O enlutado céu se vai doirando
E, à pressa, se evacua uma outra aldeia
De que as chamas se vão aproximando,

Brilha em mim, de repente, estoutra ideia
E, sem me arrepender, vou escrevinhando.
Na minha terra, o fogo vai lavrando
E, em mim, é outra a chama que se ateia…

E, sem remorso algum - porque inocente… -,
A pequenina chama dos poemas
Já lavra no meu peito e vou escrevendo…

Não me apodem, contudo, de indiferente!
Eu apenas resolvo outros problemas
Enquanto a minha terra vai ardendo…



Maria João Brito de Sousa – 12.08.2010 -22.07h

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A CLANDESTINA




Na curva de cada esquina,
Por cada passo que dei;
Meu sorriso de menina
E as asas que dele herdei!

Passo a passo e dia a dia
Sonho, construo, desvendo
Os meandros da harmonia
A que, sorrindo, me prendo…

Dobro a curva, passo a esquina,
Torno à esquina que dobrei
Mal o dia se ilumina
Volto aos sonhos que sonhei!

Já vai longa a caminhada.
Tanta esquina… quantas mais
Caberão na curta estrada
Que vai de mim ao meu cais?

Fico na curva da esquina,
Contando os passos que dei,
Sorrindo como a menina
A que não retornarei…

As asas foram herdadas,
Mas, pelos passos que der,
Nascerão novas calçadas
Das pedras do meu “mester”!

Dou por mim junto da esquina,
A pensar se não serei
Passageira clandestina
Das asas com que voei…



Maria João Brito de Sousa

terça-feira, 10 de agosto de 2010

NÃO SERÃO DE ESTRANHAR, AS CARAVELAS...




Ergue-se o pano e surge outro cenário…
De uma forma irreal, que mal se nota,
Deste mar virtual emerge a frota
Do sonho em caravelas de incensário…

A multidão, em sentido contrário,
Vai traçando, confusa, a sua rota.
Cruzados que não trazem espada ou cota
São sempre actores do nosso imaginário…

Não será de estranhar que, no futuro,
A ponte se levante sobre o muro
E que o entendimento sobrevenha…

Não será de estranhar. O que vos juro
É que estas caravelas que eu conjuro
Já se vão vendo ao longe. E ninguém estranha!



Maria João Brito de Sousa



Imagem retirada da internet

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

POUCA-TERRA, TANTO-TEJO...




“Pouca-terra, pouca-terra”…
Tanta terra falta ainda,
Tanto rio por navegar,
Tanto cume de alta serra,
Tanto trilho que não finda,
Tanta estrada e tanto mar!

E, do comboio que passa,
“Pouca-terra, muita-pressa”,
Na melopeia de infância,
Não pressinto uma ameaça…
Quero ver que terra é essa,
Quero medir-lhe a distância!

“Pouca-terra” – mais que fosse! –
Quanta improvável lonjura
Nesse meu olhar que fica…
Tanta gente amarga e doce
Nessa terrena procura
A que o mundo se dedica…

“Pouca-terra”… e, afinal,
Tanto, ainda por cumprir
Nesse mundo que então vejo…
Pouca terra? Não faz mal,
Muito mais terra há-de vir!
[pouca terra e tanto Tejo…]


Maria João Brito de Sousa – 08.08.2010 – 15.35h

Aos comboios da “Linha do Estoril”, sempre presentes, desde os primórdios da minha infância.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MARIA-SEM-CAMISA II




Maria-Sem-Camisa, a sabe-tudo,

Aprendeu a falar c`os animais

E não desdenha nunca saber mais

Pois conhece o que diz o que está mudo...



Maria-Sem-Camisa é, sobretudo,

Uma devota ouvinte dos demais!

Entende o que lhe dizem os pardais,

Brinca com a razão onde eu me iludo...



Maria é destemida e eu nem tanto...

Maria nunca mente! Eu já menti...

Maria é bem mais forte do que eu sou!



Maria é o meu EU despido o manto

Que cobre tudo aquilo que senti

Quando a fraqueza humana germinou...




Maria João Brito de Sousa, in POETA PORQUE DEUS QUER

Autores-Editora, 2009