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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

PORQUÊ O SONETO CLÁSSICO?

Escrevo desde muito pequenina. Melhor, faço poesia desde muito pequenina. Ainda tenho algumas quadras de quando tinha três anos, anotadas em papéis que o meu avô guardava
na sua secretária vitoriana... que hoje é a "minha" secretária.Coisas poucas, eu sei, mas, quando se tem menos de três anos não é muito comum passear pela casa a fazer"poemas"...
Deixo duas registadas nesta página do blog;

Ó borboleta da noite,
Ó linda do coração,
Ó borboleta da noite
Pousa aqui na minha mão...

Para quem não esteja muito familiarizado com os rigores da métrica, direi que esta quadra
está elaborada em REDONDILHA MAIOR... e eu juro que por essa altura não sabia (ainda) o que isso era!

Se não tivesses filhos
O que é que fazias?
Chorava e cantava
Todos os dias!

Deixemos por aqui as vocações precoces e falemos do soneto camoniano.
Antes de Abril de 2007 não era muito diferente da grande maioria dos "poetómanos" que conheço e, embora a memória me fugisse para um ou outro soneto de Luís Vaz de Camões, Florbela Espanca ou Manuel Maria Barbosa du Bocage, estava convencida de que este tipo de poesia era "coisa do passado".
Não me lembro muito bem de como começou a "paixão", mas recordo-me de ter, subitamente, sentido o irresistível impulso de escrever um soneto. Costumo dizer que me apaixonei por um "soneto por nascer"...
Os primeiros vieram de enxurrada. Trinta e três sonetos (metricamente imperfeitos) plenos do misticismo de um salmo e que registei na Sociedade Portuguesa de Autores sob o título: "O Livro das Horas Convergentes-trinta e três sonetos e uma estrada". Depois do primeiro entusiasmo, aguçou-se-me o espiríto crítico e o perfeccionismo veio ao de cima... os sonetos eram muito bonitos mas não eram, realmente, sonetos. Tinham ligeiríssimas imperfeições métricas, embora o ritmo e a musicalidade estivessem lá...
Alguns puderam ser modificados, outros passaram a registo pois a correcção métrica deturpava-lhes o sentido. A maioria vingou.
De Abril para cá produzi mais de trezentos sonetos camonianos, sobretudo em verso heróico ou heróico com martelo galopado.
E porque se alguém se atreveu a ler este artigo já deve ter adormecido... vou também dormir um pouco.

ESTAR VIVO E VIVER NO MUNDO

Eu escrevo porque... enfim, que hei-de fazer
Se tudo me parece indecifrável,
Se vivo neste mundo inescrutável
Onde a razão das coisas me fez ser?


Ao escrever-me, eu me assumo, sem saber,
Produto de uma força inalcançável
Que vai ganhando corpo e é palpável
Nas palavras que aqui faço nascer...

Há lá maior razão, mais nobre causa,
Que justifique, aqui, os nossos dias?
Viver neste planeta é ser assim!

Criar, a tempo inteiro, sem ter pausa!
(com isenção de impostos e franquias
em troca do melhor que existe em mim...)