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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

HOLOGRAMA

(Soneto “de coda” em decassílabo heróico)


Conserto o desconcerto, acerto o passo,
Pinto, esculpindo o verso que me ocorre…
As coisas que aqui faço, ou que não faço,
Transcendem sempre a carne que me cobre…

Mas, se à própria razão retiro o braço
Se o gesto me preguiça, a mão não corre,
Se, já rendida á dor, verga ao cansaço,
Perco o rumo à razão que me socorre…

Que me não faltes, mão dos gestos leves,
Que esculpes, que constróis, que remodelas,
Que, sem hesitações, aqui te atreves

A dissecar miséria e coisas belas
E a arder nos mil pavios do que não deves!
… porque há quem vá negar-te a luz das velas,

Quem queira dar-te fama e voz, tão breves
Que ocultem o sentido ao barro, às telas,
Para honrar com néon quanto nem escreves…



Maria João Brito de Sousa – 09.02.2014 – 17.07h


Imagem - "Genesis" - Jacob Epstein

domingo, 16 de fevereiro de 2014

VOZ

(Soneto em decassílabo heróico)


Há uma voz que chora, outra que canta,
Uma que amaldiçoa, outra, bendiz…
A esta, que me ecoa na garganta,
Mais nenhuma a desmente ou contradiz

Pois quando ela a si própria se suplanta
Ousando cantar mais do que o que eu quis,
A força com que ecoa é tanta, tanta,
Que eleva e me agiganta esta cerviz…

Que àquele que canta a luta, a voz não doa,
Nem falte, nunca, a força da razão
Que é suprema razão do que ela entoa

Pois, se a razão nos guia, a voz ressoa,
Junta-se à voz que canta em nosso irmão
E somam-se as razões por que ela ecoa!



Maria João Brito de Sousa – 11.02.2014 – 19.23h

Aos camaradas e amigos que desejaram que voz me não doesse, nem me faltasse a força! Obrigada!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

REVOLUÇÃO!

Em decassílabo heróico)


Se sofro, o que me importa, a mim, sofrer
Enquanto tantos mil, sofrendo mais,
Transformam cada grito, dos que eu der,
Num gemido que abafa outros iguais…

Se morro, o que me importa, a mim, dizer
Que a morte me chegou cedo demais,
Enquanto mil houver que irão morrer
De frio, de fome e falta de hospitais…

Mas… uma coisa sei; morro de pé!
Ninguém ficará surdo à voz de um só
Se ela projecta em mil aquilo que é

E, na corda impotente, o sujo nó,
Rebenta de repente, explode a fé
E outro Golias cai mordendo o pó!




Maria João Brito de Sousa – 11.02.2014 – 12,49h


O Quarto Estado - Pelizza da Volpedo

sábado, 8 de fevereiro de 2014

ESBOÇO CRIATIVO




(Em decassílabo heróico)


… e neste fim de Tejo em que me vivo,
Onde, entre verbo e dor, sei ser feliz,
Hei-de ser sempre o fruto do que fiz,
Do muito que senti, do que me privo

Se teimo em rejeitar, quando me esquivo,
Um verso que não venha da matriz
Ou negue exactamente quanto eu quis
Por não ser mais que um frágil lenitivo

E atendo ao que jamais será cativo,
Ao que é reprodução do som nativo
Que, em ondas, se espraiou desde a raiz

Porque, entre sopro e forma, eu, mero crivo,
Não traço mais que um esboço criativo
Dos versos que o poema a mim me diz…



Maria João Brito de Sousa – 28.01.2014 – 21.50h