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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

CANTO DE UMA ANTIQUÍSSIMA MEMÓRIA



Lembras-te dos caboclos, já cansados,
Enchendo a escadaria de queixumes?
Dos carregos dos móveis, mal atados,
De arestas afiadas como gumes?

E lembras-te de mim que, aos castigados,
Enchia de perdões, dando perfumes?
A pena que eu senti dos desgraçados
A quem tu foste impondo os teus costumes…

Lembras-te do escritório, dos teus quadros,
Da enorme cozinha onde as mulatas
Preparavam segredos culinários

E cantavam baixinho aos seus amados?
Lembras-te do brilhar das velhas pratas
Por cima da janela e dos armários?


Maria João Brito de Sousa

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O LOUCO, O ENIGMA E A ESPERA




… e ria-se das coisas que não tinha
Esquecido, já, das coisas que tivera.
Nas noites de luar, descia à vinha
Para se resolver nos braços de Hera.

Nas galhas da videira se entretinha
Tão nu como se a própria Primavera
Só à nudez legasse uma adivinha
Qual enigma infindável, sempre à espera…

Se chovia ficava num desnorte…
Escorria-lhe o enigma encosta abaixo,
Turbava-se-lhe a noite em desespero

E, louco, maldizendo a sua sorte,
Sentava-se nas rochas, cabisbaixo,
Esperando, exactamente como eu espero.


Maria João Brito de Sousa


IMAGEM RETIRADA DA INTERNET