Nessa noite
uma lua prenha,
rodando tão devagar
que qualquer olhar lhe atribuiria
a imobilidade do grafismo impresso,
deixou que uma nuvem cinzenta a tapasse
depois,
sobre o louceiro da sala,
no aquário dos sonhos antigos,
um novo e inesperado peixe incolor
foi-lhe devolvendo a memória dos
“crayons”
até que a insubmissão de uma mão
imaginária
os quisesse e soubesse ressuscitar na
vontade dos dedos
fazia tanto frio
na floresta das cores
onde as horas, como agulhas,
lhe apontavam as conchas vazias
de mil gestos sem esperança de fruto…
mas bastou
que esse peixe
se agitasse levemente,
que uma palavra
espelhasse a cor da nuvem,
que as invisíveis raízes
suportassem o inevitável tronco,
que o impensável cilindro
se alongasse em ramos impossíveis,
que as velhíssimas memórias
se metamorfoseassem em folhas
improváveis
para que
a substância do fruto
se viesse a tornar tão real
quanto aquela absoluta urgência
de o ouvir cantar por dentro da
novíssima criação
Maria João Brito de Sousa – 02.02.2013
– 18.09h