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sábado, 25 de agosto de 2012

SONETO PARA... MORDER!



Em verdade só sou quando me dou,
Assim que sol e mar fervem cá dentro
Transmutando-se em corpo e alimento
Do poema/animal que me habitou…

Palavras, coisas vivas que se comem,
São frutas que se oferecem se as procuro
Numa fome perpétua que não curo
Enquanto outras palavras me não domem

Mas é por esta língua, a que pertenço,
Que sinto, que, por vezes, também penso,
Que mordo, como tantos animais,

Sem medo do momento insano, intenso,
Em que abocanho um verso… e quase o venço
Esquecendo a derrocada dos demais…




Maria João Brito de Sousa – 23.08.2012 – 19.19h







Maria João Brito de Sousa – 23.08.2012 – 19.19h



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

CAPITALISMO - Soneto de Onze Sílabas Métricas

Sobram-lhe as migalhas dessoutra fartura
Que o sistema cria, que o cinismo inventa,
Do pouco que fia mas que o não sustenta
Porque se alimenta só de “dita”… e “dura”

Sobejam-lhe as rendas da falsa candura
Que, qual maré alta, num crescendo, aumenta
Pr`adornar uns quantos, porque a “plebe” aguenta
Tais desequilíbrios desta arquitectura…

Se contra mim falo porque uma injustiça
Tudo o que não calo foi trazendo à liça
Quando nada faço, tão pouco produzo

E levanto o punho como se o fizesse…
Mais saudável fora, mais força eu tivesse,
Mais protestaria contra aqueles que acuso!




Maria João Brito de Sousa – 02.08.2012 – 15.58h



IMAGEM -  Blind Man`s Meal - Pablo Picasso, 1903



 NOTA DA AUTORA -


Este soneto tem um erro métrico. O último verso "Mais protestaria contra aqueles que acuso!" tem doze e não onze sílabas poéticas. Deixo-o tal como está pois, na leitura, o erro é imperceptível e até contribui para a unidade melódica do poema, mas NÃO está  correcto