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quarta-feira, 1 de junho de 2011

NO DIA DA CRIANÇA - 01.06.2011


No dia da criança,
venho dizer-te bom-dia, mãe,
e olhar o teu sorriso
na memória das sardinheiras quase murchas,
mas ainda vermelhas, mãe,
nas conchas de barro onde as plantavas

Venho,
neste dia da criança,
lembrar-te, mais uma vez,
que te amo, mãe,
e agora,
que não sei se és, nem onde és,
confessar-te que sempre considerei
que olhavas demasiado a superfície das coisas,
que te esquecias de reparar
nas raizes do tempo por detrás das janelas
e nos sonhos
para além da luta pelo abraço imediato

Mas isso era eu, mãe,
eu tão pequenina como as sardinheiras,
tão abraçada às raizes do tempo,
tão estranhamente além das janelas,
esquecida,
também eu,
de não poder julgar-te
porque eras tu, afinal,
quem plantava as sardinheiras e sorria
sem suspeitar, sequer, de que viriam a murchar…

Hoje, dia da criança,
dia em que não sei se és, nem onde és,
mas não esqueço que foste,
uma lágrima, mãe,
só uma, como tu,
que tanto medo tinhas da morte
e te deixaste levar
sem teres percebido
que as sardinheiras murcham
a seguir ao abraço das raizes do tempo…
dessas que estavam por detrás das janelas
além da superfície
das coisas- tantas! –
que nunca chegaste a descobrir

E fica-me
o teu sorriso
por detrás da janela,
vermelho como as sardinheiras,
enquanto nesta lágrima,
tão única como tu,
tão eterna quanto o tempo,
hoje, como dantes, Mãe,
tento esquecer a superfície das coisas…




Maria João Brito de Sousa – 01.06.2011 – 09.29h

1 comentário:

Maria Luisa Adães disse...

Bela apologia à criança que foste e à mãe que tiveste.
Lindo!... que bem tu escreves estes poemas - e deixas descansar, um pouco, teus belos sonetos.

Mª. Luísa