
Percorro o mesmo caminho
Que um outro humano qualquer
[meu céu tem forma de ninho
como um ventre de mulher…]
Quando o dia se aproxima
Ergo, à luz do que farei,
Um templo à estranha menina
Que fui, que sempre serei…
Canto as horas e os minutos
Em palavras que improviso
Como se fossem os frutos
Com que alimento o meu riso,
Salto na corda dos dias
E, ao saltar, fico parada
Rememorando arrelias
De quem nunca arriscou nada
Nuns dias, de barro humano,
Noutros, feita de papel,
Fiz nascer asas de pano
No dorso do meu corcel
Quis então soltá-lo ao vento
Mas ele nem tentou partir…
Deu-me em troca algum talento
Que ninguém queria assumir…
Mais tarde, quando ele morreu,
Peguei nas asas, voei,
Fui levar quanto era seu
Ao céu que eu nunca encontrei
Procurei com mais jeitinho
E acabei por perceber
Que o céu cabia, inteirinho,
Neste perfil de mulher…
Maria João Brito de Sousa – 27.04.2011 – 18.21h