terça-feira, 31 de maio de 2011
QUE PENA! - Poema anti-poético, para quando for preciso rosnar...
Que pena!
Tenho tanta pena de ter pena
dos olhos de luar que não tiveste,
da refeição frugal que não fizemos
no tal dia em que não nos encontrámos…
Dessas mãos de sal que te não vi,
sublimando a saudade em gestação,
subiria – talvez…- o aceno prometido
... ou nem sequer esboçado, à luz de tão tardio.
Nos teus lábios que nunca experimentei
- porque não eram lábios
os riscos trémulos e desbotados
que jamais desenhámos
sobre a suspeição do beijo…-
um sorriso clonado
de todos os esgares que lhe foram anteriores
Que pena das horas que não passámos juntos
nessas manhãs…
essas que nos encerram
na urgência banal e rotineira
- tão desmesuradamente banal e rotineira! -
do desejo insuspeitável
que adivinho
no refrão de cada cantilena…
e das tardes,
quem sabe?
atarefadas, burguesas,
passeando entre o plano do fogão de quatro bicos
e a perpendicular do mar…
- desse mar que só pode ser olhado por um,
de cada vez… -
aborrecendo o momento seguinte,
barulhentas, conflituosas e – porque não?
tão iguais às que são “só dos outros”…
Mas pena,
pena a sério,
pena crua e inenarrável,
daquela que magoa,
rasga por dentro e deixa cicatriz…
Pena teria eu de não ser quem eu sou!
Maria João Brito de Sousa – 28.05.2011 -14.47h
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2 comentários:
"Pena tinha eu
de não ser quem eu sou."
Se sente, quanto estás de bem contigo própria...
E eu escrevo, por vezes, coisas que ninguém entende...mas eu entendo...mas não posso escrever só para mim...talvez venha daí a fuga de mim, realizada pelos outros.
Mas não posso ser diferente!
maria luísa
Desculpa, Maria Luísa, mas só agora descobri este teu comentário.
Eu não me preocuparia tanto em escrever coisas que os outros entendam imediatamente, sabes? Essa será a função dos jornalistas, dos historiadores, dos cronistas... a poesia sempre foi muito além do entendimento imediato e é essa uma das suas grandes mais-valias. Ficar pelo tangível será sempre extremamente redutivo para a poesia que deve ser completamente livre nos seus objectivos.
Abraço grande!
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