Não era a minha face
que via nesse espelho...
era a de uma outra Alice
no país dos pesadelos
- a que se transmutava
ao sabor dos cogumelos
e sabia dar corda
ao relógio do coelho... -,
Não era a minha face, com certeza!
Era,
talvez,
a da Menina-do-Capuz-Vermelho
apaixonada por um lobo velho,
fugindo com ele do caçador malvado
- a avozinha
comprava os bolos no supermercado
e
todos os dias
dançava rock and roll na penumbra do quarto -...
da Bela-Adormecida
que nunca mais conseguia adormecer
e se deitava a escrever
cartas de jogo à Bruxa-Arrependida...
da Branca-de-Neve dos sete-mil-anões
devorando maçãs-desencantadas,
tentando acreditar
que nem tudo são desilusões...
da Princesa-dos-Sapatinhos-de-Cristal
a vir da discoteca às cinco e tal...
do Pinóquio,
sorrindo , no ventre da baleia,
ou
- quem o sabe? - da Pequena-Sereia,
mas nunca a minha face!
Não era a minha face verdadeira!
Maria João Brito de Sousa - 1992/3
Imagem retirada do Google
15 comentários:
O saber constrói-se, não se adquire como quem recebe um rebuçado.
Muito bem, Maria João!
Beijo :)
Obrigada, AC! :)
Abraço!
São os nossos olhos que nos ditam o que vemos e não um qualquer espelho mágico.
E é por isso que por vezes nem nos reconhecemos...
O teu poema é fantástico, gostei muito.
Maria João, tem um bom domingo e uma boa semana.
Beijos.
:) Obrigada, Nilson!
Este é um poema do início da década de 90 do século passado e corresponde a um período emocionalmente muito complicado, mas penso que, a este, o poderia ter escrito agora, em retrospectiva.
Vou até aí!
Minha querida
Por vezes vimos apenas o reflexo de um tempo que passou por nós sem ficar.
Lindo sempre e difícil de comentar, porque os sentidos vão além do poema.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
belíssima viagem ao "outro lado" do espelho...
o capuchinho vermelho fica-te muito bem. presumo...
beijo
Olá amiga, já comentei mas não sei se ficou. Quantas vezes nos vimos ao espelho e não nos reconhecemos. Lindo o seu poema que adorei. Beijos com carinho
Belos os espelhos da memória
Bjs
:) Obrigada, Rosa Branca!
Não me será possível "devolver-vos a visita", hoje. Anteontem estive praticamente todo o dia sem ligação à net e, ontem, foi mesmo o dia inteiro...
Muito embora tendo excluído, sem poder ler, dezenas e dezenas de mensagens da minha caixa de correio electrónico, ainda tenho muitas mais do que aquelas a que me será humanamente impossível responder...
Beijinho!
Neste poema, Sonhadora, falava do meu presente, naquele tempo. Agora posso fazer, sem dificuldade, uma leitura retrospectiva mas, quando o escrevi, falava de um passado tão recente quanto os últimos dias desse tempo... também com esses, nesse específico contexto, urgia acabar.
Obrigada e um abraço grande!
Heretico, suponho que sim, que o capuchinho vermelho me ficasse à maravilha, eheheheh...
Desculpe-me estar mesmo sem possibilidade de retribuir a visita. Prometo tentar fazê-lo se conseguir "orientar-me" neste oceano de mensagens que invadiu a minha caixa de correio enquanto estive sem ligação...
Abraço!
... o que se consegue fazer com uma auto-crítica objectiva e inteligente, Mar Arável... porque disso se tratava, sem dúvida.
Estou sem possibilidade de corresponder à visita... tentarei fazê-lo nos próximos dias, se a ligação não voltar a falhar continuadamente...
O meu abraço!
Um poema diferente e que muito prova a sua versatilidade criativa.
Beijo
Obrigada, Ana!
Durante mais de quarenta anos escrevi em verso branco ou, pontualmente, posia de rima ocasional. A paixão pela poesia metrificada, sobretudo pelo soneto em todas as suas variantes, só me arrebatou aos 55 anos :)
Beijo
Estou passeando
por suas publicações.
Encantada
deixo
Bjins
CatiahoAlc./Reflexod'Alma
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