VISLUMBRES


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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ANJO IMPREVISTO



Sinto-te vir, mais suave do que a prece…
Volteia sobre mim, Anjo Imprevisto!
És o jorrar de um néctar que conquisto
No culminar de um corpo que adormece!

De tudo o que na vida me acontece
Sempre que o isco surge e não resisto,
És bem menos provável – nisso insisto! –
Do que um dia a romper, quando anoitece…

Portanto, anjo impossível que não esqueço,
Adeja sobre mim quando adormeço,
Conquista-me este sonho e vai-te embora!

Pois tu não sabes que eu não tenho preço,
Que acordo, me reinvento e te despeço!?
[meu assombro é lunar, não se demora...]





Maria João Brito de Sousa – 20.11.2010 – 18.03h

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A CONQUISTA DA FLOR PELA SEMENTE





Lá longe
Ecoa, indómito,
O meu grito,
Fonética estelar
Que eu dignifico
Num jogo universal que não domino

Eu desafio,
Mais do que o razoável
E seguro
Nas letras a que já perdi a conta
Das mil canções que crio e nem procuro

Tudo isto eu devo
E nada mais me move
Ou me norteia
Senão a mesma força que promove
A devoção lunar de uma alcateia

E, sobretudo,
Eu sou,
Como os demais,
Palco e passagem
Dos mil ilusionismos geniais
De uma vontade só, que é divergente,
Qual átomo lançado na voragem
Da conquista da flor pela semente!




Ao lobo que mora em cada um de nós


Maria João Brito de Sousa – 14.11.2010 – 18.19h


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VELHA NAU



>
Neste fundo de mar me afogo e cedo
A alma à velha nau que me navega
E, tendo revelado o meu segredo,
Recebo o novo dom que ela me entrega

Fascinada por ele, só nele me enredo
E, venha o que vier, nem a refrega
Me faz voltar atrás, cedendo ao medo
Do ciclo da permuta e da trasfega…

Por mais mar que esta minha nau percorra
[pouco me importa que ela afunde e morra;
há sempre um mar que volta e outro que parte!],

Enquanto a velha nau mo permitir
Hei-de perpetuar, neste ir e vir,
Mil conquistas do Tempo pela de Arte…


Maria João Brito de Sousa

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O MOSQUITO NA MESA DO CAFÉ II - sonetilho



Inda se fosse um leão,
Uma cobra, um elefante...
Mas... um "monstro" esvoaçante
Com perna longa e ferrão?!

Assustada, exclamo: - Não!
E, em menos de um instante,
Salto da mesa, ofegante...
Palpita-me o coração,

Quase rebenta no peito!
Não sei bem se isto é defeito
Ou se, afinal, é feitio

Mas, quando vejo um mosquito,
Podem crer que eu salto, grito
E anda tudo em corrupio!


Maria João brito de Sousa

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TER, NÃO TENDO...



Atribuo o que tenho ao que não tenho…
Se tudo tem um preço, este é o meu!
Por mais que vos pareça injusto ou estranho,
Aceitei-o da mão que mo estendeu…

É, portanto, das letras que desenho
E que estendo pr`a vós, qual Prometeu,
Que retiro o Maná que agora obtenho
[quem não colhe da Terra, ordenha o Céu…]

Se, às vezes, sinto a falta de um conforto,
Se a alma se me esgota na labuta,
Se o provento não dá pr`a sustentar-me,

Tenho a compensação do tronco morto
Renascendo da cinza; a própria fruta
Com que havereis, depois, de consolar-me…


Maria João Brito de Sousa – 06.11.2010 – 15.35h